quarta-feira, 3 de junho de 2015

Nós e o populismo. A elite que mente e aponta o dedo.

Iremos flanar rapidamente pela história e acompanhar o estrago que o populismo produz no bolso da gente comum, sejam pobres ou classe média. E perceber o mal encruado no poder já há muito tempo.

Getulio Vargas acabou com o café com leite praticado na esfera federal de poder, mas nada que possa ser festejado, pois o que foi deixado como alternativa a esse revesamento de poder da oligarquia cafeeira paulista e mineira na presidência da republica, foi o populismo. O populismo já existia nos discursos, mas como forma efetiva de poder nos foi apresentado no Estado Novo na sua forma mais autoritária. Aliás o populismo se aplica a uma liderança carismática, que aproveitando-se da popularidade, procura sufocar a oposição tendendo ao autoritarismo, Vargas apenas se aproveitou da situação conturbada para impor seu modelo logo de início. Além da tendencia autoritária, o populismo se caracteriza pelo uso intensivo dos meios de comunicação para manter sua proximidade com a massa que o apóia, pois assim também mantem a oposição sempre na defensiva das ações políticas. A propaganda se apropria do apoio popular como se o mesmo fosse incondicional e massivo, assim qualquer pensamento diferente, oposicionista, parece merecer um tom de cautela para não ser rotulado como algo que é contra o povo, contra os "interesses nacionais". Essa apropriação da virtude pelo discurso carismático também foi muito bem utilizada na propaganda atual do PT e alguns de seus siameses.

Como o populismo se alimenta por politicas publicas de agrado popular, principalmente no assistencialismo aos pobres e a medidas de efeito junto à classe operária, principalmente a sindicalizada, e sabendo que tanto o assistencialismo, como as medidas intervencionistas, geralmente ignoram a responsabilidade fiscal, estas dificilmente se apoiam em contrapartidas financeiras necessárias. Muitas vezes o dinheiro necessário para pagar a conta vem sendo obtido através da maior carga de impostos, que tiram recursos da sociedade produtiva diminuindo as possibilidades de investimento privado. Hoje o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, o que efetivamente não colabora para um crescimento sustentável, ainda mais cientes de que muito desses recursos recolhidos acabam sendo novamente privatizados pela classe politica e deixam de servir a um propósito mais generoso. O populismo assim visa manter o clima de paternalismo permanente, mesmo que isso signifique ser o governo como um parasita que acaba por asfixiar o seu hospedeiro, a economia produtiva, e juntos podem acabar morrendo.

O que vemos hoje nada mais é do que a conta desta festa chegando. O grande erro estratégico desse período populista sindical atual foi ignorar a matemática das contas públicas. O modelo socialista, seja ele apoiado ainda no capitalismo, comete sempre esse equívoco, pois a festa dura enquanto não acabar o dinheiro dos outros (setor produtivo). E hoje podemos registrar as inúmeras maneiras que o populismo criou para acabar com a própria festa. Nestes ultimas décadas, o crescimento baseado na demanda, no consumo, sem as contrapartidas de infraestrutura e de produtividade permitiram uma longevidade da miopia nacional, mas a mesma longevidade desse crescimento capenga provocou um rombo suficiente para que fosse imprescindível um ajuste imediato no curso. Como esse ajuste foi necessário bem as vésperas da eleição passada, ele era impensável, e de forma rasteira foi acusado de ser a "politica criminosa da oposição" que faria tudo o que está sendo necessário ser feito por quem acusou ao outro. Além de não ser admitido pela presidente, o mesmo também foi postergado, e pedalado, causando estragos ainda maiores do que o previsto. Mas não foi apenas isso que ocorreu na economia. Dilma se viu sozinha no leme, pois a nau estava a deriva e ninguém quis assumir a culpa, nem ela mesma. A tempestade perfeita se formou nas contas brasileiras varrendo nossas divisas. A recessão se juntou com a incompetência e com a fraude política, trazendo a desconfiança generalizada, assim a perda de valor ultrapassou os parâmetros matemáticos para aderir a números puramente especulativos. A ladeira virou um abismo.

Além de verificar o estrago maior, o econômico, temos que perceber os estragos culturais dessa politica perniciosa. O populismo sempre se colocou como o pai dos pobres, dos desfavorecidos, sendo seu principal discurso se colocar como solução imediata das necessidades primárias através dos favores do Estado, um paizão para com essa parcela majoritária de eleitores. Quem em situação de pobreza, analfabeto funcional e desqualificado para o emprego não se agarra a uma promessa de dias melhores promovidas pelo socorro estatal, já que não vislumbra uma solução no horizonte? Além desta parcela de miseráveis em desespero, existe uma que se aproveita dessa festa para poder subsistir sem precisar prosperar. Aliado a essas situações emblemáticas, temos hoje em dia, também aqueles que aprenderam a se "profissionalizar" para se aproveitar das benesses assistencialistas do Estado se vitimizando em busca de seu quinhão. E não falo apenas dos aproveitadores de carreira solo, mas de famílias que procuram assumir um papel de uma minoria "oprimida" a fim de obter ajuda oficial. O populismo sindical está aí para estigmatizar minorias e fazer com que as gordas verbas assistencialistas jorrem a favor desses grupos organizados, 'vitimas profissionais'. 

Como resultado derivado disso, muitos pobres nem procuram vencer por seus méritos, afinal eles são vitimizados, recrutados e convencidos que o resto do Brasil nem os conhece e nem os quer na sociedade. Uma educação decente dificilmente é incentivada na prole a fim de promover um futuro melhor, apenas se aprende o básico para se obter o máximo em cima de "direitos" obtidos por sua condição. Essa cultura de dependência apenas ajuda a ressaltar as mazelas de um Estado paternalista, mas o principal crime sobre a formação cultural do povo é faze-lo acreditar que só existe uma solução, e a mesma é ser salvo, nunca se salvar de si mesmo e de sua condição, e nunca se promovem as ferramentas para a ascensão econômica e social do indivíduo como maneira de vencer. Pior ainda é culpar alguém pela condição dessa massa que subsiste na pobreza. Culpar aqueles que obtiveram sua ascensão e são motivo de inveja, sim, a elite. Quem seriam esses criminosos da elite? A começar, a classe média e os empresários...Culpar os ricos pela pobreza sempre foi a escaramuça principal dos governos populistas, principalmente os de ideologia de esquerda mais exacerbada. O fracasso de gestão pública, econômica e de planejamento são substituídos por um fator mais factível aos ignorantes, afinal é mais simples faze-los entender que alguém ficou rico porque "roubou" de alguma maneira o dinheiro que era pra ser distribuído pelo Estado aos pobres. A matemática econômica não vai explicar bolhufas a essa massa ignorante em aritmética, fica mais factível pensar que alguém ficou com o que era deles, afinal todos somos iguais, não? E se algo pode ser mais nefasto do que essa balela de igualdade, eu não conheço. Iguais em direitos e oportunidades está muito distante da igualdade de condições ou a igualdade de capacidades. Já há muitas décadas tem sido muito mais fácil obter votos através do mecanismo socorrista do que promover o desenvolvimento dos recursos necessários para que essas pessoas se qualifiquem a um emprego, a forma mais segura de combate à miséria. 

Pensar que divinamente somos iguais permite o pensamento de que que a justiça seria feita através do milagre da distribuição forçada, ou imposta. Esse pensamento foi gestado no DNA comunista e assim a burguesia seria acusada de ser o demônio pelo próprio demônio. Simetria perfeita da canalhice. Se antes, no comunismo arcaico, o inimigo era o grande capital, hoje no socialismo sindical fica estranho demonizar os próprios parceiros de negócios que andam frequentando os palácios do governo. Como ensinou Antônio Gramsci, a família burguesa e o cristianismo eram os principais obstáculos ao sucesso comunista, e assim adaptaram o discurso do inimigo para uma nova elite, uma elite desarticulada, frágil em sua própria defesa, a classe média. Para o muito pobre, a classe média é muito rica já, são questões apenas de referencia. A desarticulação da classe média é histórica, mas não perpétua, pelo bem do país espero que sim.

A providência paternal unida ao discurso do "inimigo externo" dos pobres, as elites, é usado quase como uma ficção no imaginário da população pouco instruída. Elite, esta pode ser demonizada como o fator, ou o grupo que impede que os pobres saiam da pobreza sendo assim os inimigos primordiais do povo. A ideia é que todo e qualquer individuo que não seja pobre ou remediado é da elite e deve ser combatido, derrotado, humilhado como vingança pelas humilhações sofridas. A essa estratificação do nós e eles, deriva-se muitos sentimentos habilmente usados pelos apelos populescos, principalmente por aqueles treinados na  turma de Frankfurt e Gramsci. A inveja, o ódio, o isolamento social do pobre, a alienação da sua consciência como individuo, a sua inserção no coletivo "revolucionário" e a formação do inimigo exógeno ao seu isolamento, a elite opressora. Pronto, estamos quase em guerra, senão em armas como imaginavam, em guerra pelos corações e mentes deste rebanho que forma o maior curral eleitoral do país.

Quando o populismo descobriu o dueto, paternalismo estatal e elite opressora, ele não se contentou, acabou por refinar mais um aliado, a ignorância. Investe-se pesado em obras civis de escolas mas quase nada na qualificação do professorado e muito menos em sua valorização profissional. Um país continental que não consegue sair da rabeira na qualidade de sua educação, uma vergonha ou um caso pensado? As obras geram oportunidades financeiras aos contratantes e contratados, mas seus resultados quase nada geram aos seus destinatários devido a falta de "vontade politica". Porque será?

Assim, o discurso populista se torna a armadilha que prende a todos nós, o povo, a uma elite sem nomes e sobrenomes centenários pois ela se forma e transforma a cada ciclo de poder partidário em um reinado presidencialista com sua corte transitória, composta pelo congresso, ministérios, cargos estatais, secretarias, autarquias e infindáveis cabides de emprego aos vassalos de plantão. Há algum tempo a elite era a esquerda caviar acompanhada de "nobres empresários" acostumados ao leite das mamas estatais. Hoje é a elite sindicalista, mixada com a esquerda caviar, e os nobres empresários salpicaram o leite das mamas estatais com um pouco de azeite Petrobras. Enfim, mudam alguns ingredientes, mas o prato é o mesmo, Populismo a la Banânia.

Se fossemos uma orquestra, estaríamos repetindo o mesmo disco já há muito tempo, ainda em rotação 78 como nos antigos gramofones, estamos submissos a essa elite polimorfa que se alterna no poder apenas sendo diferente nos rostos e siglas, CNPJs e títulos acadêmicos mas mantendo o mesmo ritmo desde Chiquinha Gonzaga no começo do século passado. É como se houvesse um desfile sempre com as mesmas bandas que vão se alternando repetidamente na avenida e o povo fica lá, aplaudindo eternamente as mesmas.

Mudamos o milênio, mas não mudamos o padrão de dependência inescrupulosa. Entram Getulios, saem Janios, vem Collors e vão Lullas, e continuamos a sonhar com o próximo salvador da pátria que nos livrem da corrupção e do descaso, sendo eles mesmos com sua política, os causadores da paralisia que vivemos. Esse desfile já dura mais de um século. É muito tempo para um povo não acordar. Estamos hipnotizados por uma inércia bolorenta. Continuamos pobres mesmo com alguns ciclos de prosperidade que apenas colaboram para manter a ilusão de que temos um futuro. Continuamos dependendo do humor e da complacência de vossas altezas no poder para sobreviver. Basta uma breve crise na economia e lá se vão as conquistas de décadas de trabalho. Desemprego, poder aquisitivo, estudos e projetos rio abaixo e milhões voltam a cair no atoleiro da pobreza sedentos de socorro estatal para não passar fome e frio.

Quando o povo brasileiro entenderá que a vida não é aquilo que nos entregam como realidade? A realidade pode, e deve, ser medida pela régua de nossos sonhos, não pela régua do que nos dizem ser possível. Assim como acreditamos nisso pessoalmente, deveríamos acreditar como povo. Basta querer mais, exigir mais. Nos contentando com esmolas, seremos eternamente dependentes. Não devemos exigir "direitos" trabalhistas mas sim direito ao trabalho. Ronald Reagan já dizia que o melhor programa social de um governo é o emprego. Mais que reclamar esmolas e "direitos" que nos custam muito caro, devemos exigir que se permita criar empregos mais perenes e menos efêmeros, criar qualificação através do ensino, criar condições econômicas para que o trabalhador receba seu salário, sem que o governo tome boa parte dele compulsoriamente emprestado para utilizar em suas desastradas empreitadas corruptas e ineficientes, e acaba por fazer pior, devolve o que pegou devidamente corroído, com correção abaixo da inflação, ou seja, devolve muito menos do que tomou. Chega de imaginar o Estado como solução de tudo. Ele deveria se ater a diretrizes de eficiência na politica administrativa, econômica, legislativa e jurídica, prover a cobertura de demandas primárias de saúde, bem como de transporte onde se carece. Fiscalizar abusos e punir adequadamente. Representar-nos oficialmente frente a outras nações e basta. Deixa que faremos o resto. Criaremos riqueza e oportunidades, conhecimento e prosperidade através da busca de nossos sonhos.

Num mundo conectado, temos milhões de pessoas desconectadas da realidade necessária. Vivemos acreditando na melancolia de um futuro que nunca chegou. Já há mais de um século de Republica. Acreditamos que nossa felicidade está na mão de outros apesar de nunca aconselharmos isso aos nossos filhos. Esqueçam até a hipocrisia genética da esquerda, ela somente piora a doença mental de crer que o Estado, ou um governo, pode fazer por nós o que nós devemos fazer por nós mesmos.

Por fim, lembremos que o PT está nos fazendo um imenso favor de chacoalhar velhos tabus. Ele nos mostrou que elite no Brasil nada mais é do que apenas um bando de corvos que devoram os olhos do povo. Corvos sem nome. Corvos acrônimos, geralmente iniciando com Pê. Pê Tê, Pê Sol, Pê aquilo, pé na bunda dos trouxas que acreditam no modelo de governo déspota que se junta a empresários em uma simbiose necrosada já na origem, pois sufoca o capitalismo de concorrência livre com o ganho fácil do capitalismo parasitário de sempre. Precisamos que a classe média, tão odiada por Chauí et caterva, opere o milagre de se tornar a nova elite moral e empresária de um país mais humano e livre, mais criador de sonhos e menos interventor das nossas esperanças. Um país de todos, onde o "todos" não sejam somente aqueles que dependem financeiramente deles, sejamos todos nós, independente deles.